sábado, 13 de junho de 2009

Adeus



A cada despedida tua, uma rua fica mais escura.

A noite acolhe o nosso amor e o céu estrelado, aquele que ainda seguramos no peito, abafa a luz que brilha já sem jeito. Continuas madrugada desfeita no nevoeiro, voo suspenso num querer imenso, vontade cumprida pela metade, trago de manhã com sabor a amanhã, destino escrito no desatino, loucura de um deus que nos obriga a dizer... Adeus.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Cegueira dos sentidos


Desfolhou-se um malmequer, quando trocaste a palavra Amor por outra qualquer, uma máscara soltou-se, um rosto feito do nada revelou-se, e no mar, que delicadamente pintei com o meu amar, perdeu-se para sempre aquele olhar...

A cotovia tinha no lugar da razão um pedaço de ilusão; uma cega paixão fazia sentir um outro coração, uma canção composta de maldição, mas dita ao ouvido com emoção, soltava a sua imaginação. Nesses instantes, em que as aves não pisavam o chão, no abrir de cada mão, libertavam-se bolas de sabão, estranhamente, num toque de perfeição, uma estrela apagava a contradição e tudo parecia uma maravilhosa predestinação.

Rodopiava a cotovia, senhora da alegria, não sabia que aquilo sentia era apenas o que queria... talvez num dia de eterna fantasia!...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O son(h)o da cotovia


Numa manhã de Outono, veio um forte sono!... e num silêncio medonho, roubou o sonho que tinha bordado com os fios do teu ar risonho.

Na ilha, nunca mais amanheceu, um vulcão adormeceu nos braços de uma lagoa cor do céu, a terra arrefeceu e tudo o que um deus teceu, transformou-se numa densa bruma em forma de véu!
O sono é feito desta paisagem deserta, é uma luz encoberta quando a vontade já não aperta, uma enorme planície aberta onde o sonho se liberta. No vazio as flores não têm cor, perde-se o odor, o caminho faz-se sem dor!



- Ah, Cotovia!... Quem viu ao lado de quem te queria…
Seria alquimia de quem te via?!

quinta-feira, 26 de março de 2009

No silêncio de mim


Arde em minhas mãos um poema de paixão, tranco a porta, escondo o turbilhão, mas no afago do meu coração só me resta um oceano solidão. Um raio de sol não se pode arrumar numa caixa de papelão, a letra que rasgaste é grito solto no silêncio desta ilusão.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Entre a espada e o destino


Era manhã.


De tuas mãos, rasgavam-se os sons de uma viola; trazias as promessas de uma cartola escondida numa sacola. Mas, ao longe, ao compasso do teu passo, ouvia-se o batuque de um pedaço de aço, reparei que, entre um traço e um estilhaço, surgia a figura de um triste palhaço com o coração de aço.

Um frio intenso tornou o ar denso, um manto de espanto cobriu a terra de pranto, em nenhum canto ficou um pouco de encanto. Um arco-íris apagado desfez-se no vento molhado, um sorriso rasgado perdeu-se numa lágrima que me tinhas segurado... por vezes, a tristeza é esta estranheza, apenas aquilo que fica do desatino entre a espada e o destino.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A mim, bastava-me...



...a ternura de um olhar que roubava ao teu inquieto procurar.

Amar-te era um verbo feito de coisas pequenas, um pedaço de esperanças no regaço de mil lembranças, um instante de vontade numa taça de ardente saudade, uma aurora adormecida na promessa de outrora, uma simples palavra riscada à espera de ser apagada.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Revelação



Naquela noite fria e escura, entreguei o sonho à loucura e já despida de toda a ternura, parti perdida à tua procura.

Descobri que ao fundo da rua, havia uma casa que diziam ser tua. Quatro paredes nuas, uma porta sem fechadura, sete luas a fingir de cobertura.
Lá dentro, junto à lareira, rimavas uma história que um dia foi verdadeira. À luz de uma candeia, um verso solto perdia-se na poeira, uma palavra escondia-se na tua algibeira...

Hoje sei que o teu poema era feito de meia dúzia de promessas, algumas rasgadas na bruma; a tua casa... apenas mais uma; tu... uma estátua que esculpi na espuma!